sexta-feira, outubro 16, 2009

Mestre Wilson Moreira




Wilson Moreira é um mestre. Sua família, povo do jongo e caxambu, o iniciou no melhor de nossa arte negra. Começou nas escolas de samba de Realengo onde morava. Foi tocar tamborim na Água Branca, que se fundiu posteriormente à Mocidade Independente de Padre Miguel. Já mostrava seu talento artístico, tocava percussão, era passista e fazia suas primeiras composições. Em 1956, Leny Andrade gravou sua primeira música, Antes Assim.

Em 1962 e 63 ganhou os sambas-enredo da escola. Começou a participar de grupos como Os Cinco Só (com Zuzuca, Zito, Jair do Cavaquinho e Velha), que depois mudou de nome para Turma do Ganzá. Com grupo Partido em 5, grava um LP de mesmo nome. Dividia o espaço com bambas como Candeia, Casquinha, Velha e Joãozinho da Pecadora. O disco fez muito sucesso na época. Vendeu tanto que não só gerou duas continuações, como foi motivação suficiente para que o Wilson largasse sua profissão de carcereiro (sic) e se tornasse músico profissional.

A carreira de Wilson começa a deslanchar. Grava os volumes seguintes dos discos Partido em 5 e duas de suas parcerias com Candeia fazem sucesso. Mel e Mamão com Açúcar e Não Tem Veneno, esta última levava a quadra de sua nova escola, a Portela, à loucura quando interpretada.

Quando o Nei Lopes procurava um parceiro para letrar as melodias, o Delcio Carvalho falou para ele: "Vem cá que vou te apresentar um sujeito que põe música até em bula de remédio". Formava-se então uma das mais geniais duplas da história da música brasileira. Se você gosta de samba, conhece algumas de suas músicas. Como Coisa da Antiga ("Na tina, que vovó lavou/a roupa que mamãe vestiu quando foi batizada"), grande sucesso de Clara Nunes. Goiabada Cascão em Caixa ("Goiabada Cascão em caixa/É coisa fina, sinhá/que ninguém mais acha"), sucesso na voz de Beth Carvalho. A lindíssima Gostoso Veneno ("Esse amor me envenena/mas todo amor sempre vale a pena/desfalecer de prazer/morrer de dor/tanto faz, eu quero mais amor"), gravada por Alcione e que outro dia virou até trilha de novela global. Senhora Liberdade ("Abre as asas sobre mim, ó Senhora Liberdade/ eu fui condenado sem merecimento/por um sentimento/por uma paixão") que virou hino na campanha das diretas e nos comícios do Lula em 89. Parafraseando o Monarco, se for falar dos sucessos do Wilson, hoje não vou terminar.

A dupla gravou dois discos fundamentais de samba, "A Arte Negra de Wilson Moreira e Nei Lopes" e "O Partido muito Alto de Wilson Moreira e Nei Lopes". A última vez que os discos foram editados saíram na série de coletâneas Raízes do Samba.

No final dos anos oitenta, a dupla se desfez em discos. Ambos lançaram discos solo que tinham músicas da dupla, mas também contavam com outros parceiros. Wilson fez dois discos especialmente para o mercado japonês produzidos pelo Tanaka, "Peso na Balança" e "Okolofé". Estes discos contavam com a nata dos instrumentistas brasileiros. Em 97 acontece um acidente, Wilson sofre um derrame. O mundo do samba se une em show para ajudar seu tratamento. Apesar da fraca divulgação na mídia (claro que teve uma forte divulgação na nossa então incipiente Agenda), o show lotou o Teatro João Caetano no Rio de Janeiro. Mais de 1.000 pessoas aplaudiram extasiadas Paulinho da Viola, Dona Ivone Lara, Nei Lopes, Zeca Pagodinho, Zé Ketti, Nelson Sargento e muitos, muitos outros homenagearem o bamba. Meses depois, ao falar do show, Wilson afirma: "Vencemos a mídia".

( Retirado do Site “ http://www.samba-choro.com.br/artistas/wilsonmoreira “ )

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